quinta-feira, 22 de julho de 2010

Peixe vivo

meu avô tinha um sorriso

de menino buliçoso, traquino,

daqueles de pregar peças.

Foi numa certa sexta-feira

treze que ele bateu

avexado quase botando

a porta a baixo.

Hoje tem pescaria !

acorda, hoje tem peixe

pra ninguem botar defeito!

Dito e feito:

mal se arregalaram os olhos,

nem deu tempo pras pupilas

se latejarem com os raios

do sol queimando o coro.

Depois de umas duas

ou tres léguas, uma curva ali,

uma esquina acolá

e haja arrasta pé

e levanta poeira.

Do meio da mata se

escuva o vento forte

ninando nos ombros

o assustador badalar

da horas do meio dia.

Deus nos acuda,

meu Padim Pade Cícero

do Juazero, quando nois

chegar lá, o tal do açúde já secô

e o peixe, seesse for voadô,

tá milhas e milhas da gente,

Depois de dispencar ladeira

a baixo é que chegamos,

o suor pesava no rosto

e a sola dos pé toda rachada

de se bater no chão duro.

O que nóis via era só uma lagoinha,

mais ou menos um metro por um metro.

pois o resto tava cobrido por uma

planta rasteira. Nós tivemo

que alimpar primero a lagoa

pra dispois pescar.

Já é quase finzinho de tarde

e quando cumecemo a arrastar a rede

já aparecia as primeiras estrelas.

Inté o cruzero do sul brilhava no marzão azul

sobre nossas cabeças.

Depois da meia noite arresorvemo voltar pra casa:

sem peixe, somente uma piabinha magrela e cheia

de espinhas.

Sob o luár da lua cheia nós batemo muito chinelo

Inté avistar de longe o nosso esconderijo, o galo

do Zé marcava a hora de ir pra feira, era cinco da madrugada.

Inté os dias de hoje se pregunta se o tal do galo

marcava as horas ou sirria da cara da gente ou tirava sarra

da piabinha só o palito.

Vovô conta sempre essa cunversa e os santo lá no céu

morrem de sirri que até São Pedo tem de soltar seus trovão

pra acarmar a revolta de vinte macho e uma piabinha magrela

e revoltada da vida.

Vovô éra muito creativo, ele nunca mentia, sempre inventava

umas estórias do tempo da veia e gostava de se vestir de alma

cum castiçal do seu pade pra assustar o pessoá no meio da mata.

Mas essa é outra istória invocada, vamo deixar pra dispois,

agora é hora de pegar no sono esonhar com vovô lá no céu.

Sérgio, Beija-Flor-Poeta

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Os lábios de Eva



Siga
e persiga
a poesia:
grafia dos lábios
de marisia
em plena L2
do equaltorial
sul-americano
coracao pulsante
no centro de Paris:
Brasil - principe dos mares,
Sampa - rainha das amazonas.

Índio-flecha
o riso sorriso
nas rimas
dos olhares seus:
perdoa-me,
nao sei rezar
e a santa que amo
ainda está entre nós,
terrestres beija-flores.

Siga:
persiga o amor:
cassa-me em ti,
nao nos ares,
nos mares,
em outros portos.

Os lábios mortos
da ingenuidade que somos
quando cegos amamos,
abrir-se-á com a lágrima
em gotas de orvalho
fecundando teu seio,
brotando meu ser.

Sérgio, beija-flor-poeta

domingo, 18 de julho de 2010

a maçã do desamor


Eva,
quantas pétalas nuas
estraçalham as vidraças
do meu ser beija-flor,
melhor bater asas ao vão
do que morder aos bicos
as estrelas noturnas
sem a mínima esperança
de se estrepar no mel
do néctar solar:
é meia noite e meia,
aviões tropeçam em mim,
oh rosa dos ventos,
que minhas penas do amor
encontrem abrigo
entre tuas pétalas sangrentas
de saudades e anseios
pelos beijos meus:
pirata dos sete-mares.

Sérgio, beija-flor-poeta