meu avô tinha um sorriso
de menino buliçoso, traquino,
daqueles de pregar peças.
Foi numa certa sexta-feira
treze que ele bateu
avexado quase botando
a porta a baixo.
Hoje tem pescaria !
acorda, hoje tem peixe
pra ninguem botar defeito!
Dito e feito:
mal se arregalaram os olhos,
nem deu tempo pras pupilas
se latejarem com os raios
do sol queimando o coro.
Depois de umas duas
ou tres léguas, uma curva ali,
uma esquina acolá
e haja arrasta pé
e levanta poeira.
Do meio da mata se
escuva o vento forte
ninando nos ombros
o assustador badalar
da horas do meio dia.
Deus nos acuda,
meu Padim Pade Cícero
do Juazero, quando nois
chegar lá, o tal do açúde já secô
e o peixe, seesse for voadô,
tá milhas e milhas da gente,
Depois de dispencar ladeira
a baixo é que chegamos,
o suor pesava no rosto
e a sola dos pé toda rachada
de se bater no chão duro.
O que nóis via era só uma lagoinha,
mais ou menos um metro por um metro.
pois o resto tava cobrido por uma
planta rasteira. Nós tivemo
que alimpar primero a lagoa
pra dispois pescar.
Já é quase finzinho de tarde
e quando cumecemo a arrastar a rede
já aparecia as primeiras estrelas.
Inté o cruzero do sul brilhava no marzão azul
sobre nossas cabeças.
Depois da meia noite arresorvemo voltar pra casa:
sem peixe, somente uma piabinha magrela e cheia
de espinhas.
Sob o luár da lua cheia nós batemo muito chinelo
Inté avistar de longe o nosso esconderijo, o galo
do Zé marcava a hora de ir pra feira, era cinco da madrugada.
Inté os dias de hoje se pregunta se o tal do galo
marcava as horas ou sirria da cara da gente ou tirava sarra
da piabinha só o palito.
Vovô conta sempre essa cunversa e os santo lá no céu
morrem de sirri que até São Pedo tem de soltar seus trovão
pra acarmar a revolta de vinte macho e uma piabinha magrela
e revoltada da vida.
Vovô éra muito creativo, ele nunca mentia, sempre inventava
umas estórias do tempo da veia e gostava de se vestir de alma
cum castiçal do seu pade pra assustar o pessoá no meio da mata.
Mas essa é outra istória invocada, vamo deixar pra dispois,
agora é hora de pegar no sono esonhar com vovô lá no céu.
Sérgio, Beija-Flor-Poeta
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