segunda-feira, 15 de março de 2010

mais um




Uma pétala atrai outra,
e mais uma,
e mais duas,
e mais três,
e mais quatro
até que a rozeira
se perca no meio
de tantas elas.
São tantas pétalas assim
que me fazem ser um,
ser mais um,
ser mais dois,
ser mais três
ou mesmo quatro,
porém, no disfarce,
é melhor ser mais um

ao reverso de qualquer um,
ou mesmo o denominador
milésimo de nenhum.

Beijos poéticos
no centro de todas as pétalas,
ponte-agudas, redondas,
cincunflexas, cálidas
pelo amor,
pálida pela nudez do tempo,
colorida pelo girassol,
negrinha pelo arco de íris
nos lábios da esperança:
centro da vida,
centro da flor,
cujo botão se abre dócilmente
numa ternura infinda
e numa suavidade
de derreter o fogo,
congelando assim
suas chamas ardentes,
ó vulcão, ...
sinto a seiva do teu seio
corroendo por dentro mim,
a me deglutir em pedacinhos
por inteiro, nada de meias metades,
e sim, metades inteiras.
Amor, em gritos te implóro
e choro de felicidades
por ser mais um,
cuja pele em flor
é arrupiada e transformada
em tatuagem
entre teus lábios
de felina, ó purpurina donzela,
tu, somente tu és capaz
de tapar o sol com a peneira
e remendar pano velho
com relíqueas novas do amor.
Diga-me entao:
devora-me em pedacinhos,
ou por inteiro ?
Não !
Por favor !
Não me responda,
pelo menos agora,
pois quero apenas respirar
o último desejo
de ainda ser mais um
entre tuas pétalas mortíferas
desse meu eu insano
e incuravel.
Lembre-se:
é muito melhor
ser mais um,
do que ser mais um outro.

Beijos arrupiados
à flor da pele.



Sérgio,beija-flor-poeta