sábado, 21 de novembro de 2009

Escuros acústicos




Feche os olhos,
cerre as pálpebras
e sinta o momento
em que se deitam
e se apopiam
reciprocamente !

Amarre o vestido
tomara que caia
na folha esquerda
da janela fechada
para o mundo lá fora !

Páre o ponteiro
das horas,
dos minútos,
dos segundos,
dos décimos,
dos milésimos
colando-os
com esparadrapos !

Silencie o rádio
da cozinha,
se possível for,
jogue as pilhas fora
e amarre a boca
do cachorro
gritando socorro
em plena Belém - Brasília !

Corte o negro das nuvens
e deixe as gotas de sol
secarem o Sul
desse nosso Brasil
alagado pelas promessas
políticas !
E o suor respingar
a lavroura no Nordeste seco
de esperanças !

Avise aos Senadores
que a ponte que liga São Luís
ao resto do País
é motivo de vergonha
pois teme em cair
maré a baixo
e deixar isolada
a ilha francesa do amor !

Deixem de hipocrisia
dizendo que o Brasil
é País do futuro !
Não há futuro sem atualidades !

Gritem ao mundo
que a nação não é celeiro !
Celeiro rima com senzala
e escravidão, e coronelismo,
e colonialismo.

Esse ano eu vou comer vatapá
na Bahia e tomar
vitamina de abacate no Rio !

Acabem o tampa-sol
com a peneira !
E deixem de remendarem
vestido velho
com traços novos !
Eles rasgam e se esviezam
ao se costurarem.

Deixem as donzelas
unirem as linhas conjuntas
de beija-flor e de rosa
em pleno amor fatal.

Sérgio, beija-flor-poeta

2 comentários:

  1. Simplesmente lindo... Rítmo perfeito em versos prazeirosos e de grande reflexão.

    Beijos confessos...

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